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Quando estabelecemos uma relação de amor e companheirismo com um animal, há um acordo subtil de que vamos dedicar-nos um ao outro sem reservas. Ele vê-nos como uma referência, confia em nós, oferece a sua presença, a sua bondade e a sua leveza. Nós oferecemos de volta o nosso coração, o espaço na nossa vida, e inúmeros cuidados que assegurem o seu bem-estar em múltiplas dimensões.

Mas tudo isto não é fácil, nem sempre prático, nem pouco exigente… Sobretudo quando a doença bate à porta.

Sinais de desconforto começam a aparecer, a energia de outrora fica diferente, o olhar não é tão brilhante… E agora? O coração do humano fica apertado, a gestão logística do dia-a-dia fica complicada, a incerteza instala-se.

Como em todas as circunstâncias da vida, para um olhar atento, o desafio de estar presente com um animal doente revela muito de nós. O nosso grau de tolerância ao desconforto de outro ser; o nosso modo passivo ou reativo de agir perante a dificuldade; a nossa flexibilidade, ou não, para viver uma agenda que nem sempre é determinada por nós; e, claro, o nosso doloroso e profundo medo da morte.

Podemos passar por isto com sofrimento e confusão, ou podemos passar por isto com sofrimento e lucidez:

  • Lucidez para abrirmos o coração e compreender novas dimensões de sofrimento, que não só a nós digam respeito.
  • Lucidez para acomodarmos a impermanência e fluirmos com a incerteza com mais à vontade.
  • Lucidez para oferecermos o melhor cuidado possível dentro da nossa realidade (que é naturalmente limitada).
  • Lucidez para integrar que falar da morte é falar da vida… E, por isso, integrar que preparar o coração para a perda é um ato corajoso e necessário.

Quando nos tornamos conscientes de que o momento da separação vai acontecer – ainda que possa ser daqui a 2 dias ou 20 anos – ganhamos a oportunidade de sermos ainda mais generosos com o nosso amor e o nosso cuidado. De repente, todas aquelas horas em que cuidar parecia um peso, se tornam um privilégio por podermos partilhar essas mesmas horas em vida.

Duas vidas, dois corações, conectados pelo acordo subtil que foi estabelecido desde o início: estamos juntos, sem reservas.